Produção de vacinas e o uso de linhagens celulares derivadas de abortos

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A luta pela legalização do aborto é falsamente sustentada com a promessa de defender os direitos fundamentais da mulher. Mas como será possível edificar direitos tendo como matéria prima a morte de inocentes? A aceitação do aborto é um sinal alarmante da propagação da cultura de morte, da crise dos valores éticos e morais que vai obscurecendo a dignidade do ser humano.

Como enfatiza o Papa Francisco, a vida humana é sagrada e inviolável. [1] A fecundação marca o início da vida de um indivíduo da espécie humana. Não se trata de um simples acúmulo progressivo de células, [2] mas de uma vida preciosa e irrepetível, que deve ser protegida e respeitada. [3] O Catecismo da Igreja Católica expõe o inalienável direito à vida de todo indivíduo humano como um elemento constitutivo da sociedade civil e de sua legislação. [4] Não é possível considerar o aborto como via legítima, mesmo que por razões terapêuticas. [5]

A avaliação moral do aborto se estende às formas de intervenção sobre embriões humanos. A experimentação sobre embriões humanos é lícita apenas sob a condição de respeito à vida e à integridade do embrião, que não envolva riscos desproporcionados e seja orientada para a cura e melhoria das suas condições de saúde ou para a sua sobrevivência individual. [6,7] A utilização de embriões ou fetos humanos como objeto de experimentação constitui uma desordem moral grave, um crime contra a dignidade do ser humano. [3]

“Na investigação científica e na produção de vacinas ou de outros produtos, utilizam-se, por vezes, linhas celulares, que são o resultado de uma intervenção ilícita contra a vida ou contra a integridade física do ser humano” [8]. Algumas vacinas comercializadas são produzidas a partir de linhagens celulares provenientes de abortos provocados como a WI-38, MRC-5, PER.C6 e HEK293. [9,10]

Desde 1960, células derivadas de abortos eletivos têm sido usadas para fabricar vacinas, incluindo vacinas atuais contra rubéola, varicela, hepatite A e herpes zoster. Diante da pandemia da COVID-19, há mais de 130 vacinas candidatas sendo desenvolvidas no mundo. Cerca de cinco dessas vacinas usam as linhagens de células embrionárias humanas HEK-293 e PER.C6. HEK-293 é uma linhagem de células renais usada em pesquisa e indústria que vem de um feto abortado por volta de 1972. A PER.C6, vem de uma linhagem de células da retina de um feto de 18 semanas abortado em 1985. [11]

Cada avanço científico com o uso de células provenientes de abortos eletivos dessensibiliza beneficiários, cientistas e médicos diante do ato maligno original que produziu essas células. Os seres humanos cujas vidas foram tomadas para fornecer essas células podem se tornar irrelevantes e, com o tempo, até esquecidos. [12] Há um crescente risco da aplicação de uma ética utilitarista, capaz de justificar o uso de nascituros como material biológico, em vista de um bem que se poderia gerar para um grande número de pessoas. A vida humana não pode ser comparada à uma mercadoria, uma fábrica de células para pesquisa. [9,10]

Os médicos e pais de família precisam recorrer a vacinas alternativas (se existirem), solicitando às autoridades políticas e aos sistemas de saúde que outras vacinas sem problemas morais sejam disponibilizadas. Diante de doenças contra as quais não existem opções disponíveis e eticamente aceitáveis, vacinas com problemas morais podem ser usadas apenas em caráter temporário para conter a disseminação do agente etiológico. [13]

Por fim, cada pessoa de boa consciência tem a responsabilidade de se opor ao uso de células embrionárias – oriundas de abortos- na pesquisa e produção de vacinas. [12] Se realmente há o objetivo de obter uma ciência que esteja a serviço do homem, é urgente e necessário desvincular o avanço científico do aborto. [14]

“O homem não poderá encontrar a verdadeira felicidade, à qual aspira com todo o seu ser, senão no respeito pelas leis inscritas por Deus na sua natureza e que ele deve observar com inteligência e com amor.” [5]

Danielle Shinohara
Coord. estadual do Ministério Universidades Renovadas – RCC/PR

 

 

Referências:
[1] PAPA FRANCISCO, discurso aos participantes no simpósio promovido pelo dicastério para os leigos, a família e a vida (25 de Maio de 2019).

[2] LÓPEZ-MORATALLA, N.; SANTIAGO, E.; HERRANZ-RODRÍGUEZ, G. Início de la vida de cada ser humano: Qué hace humano el cuerpo del hombre? Cuadernos de Bioética, v.22, n.2, p.283–308, 2011.

[3] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS FAMÍLIAS, carta dos direitos da família, art. 4 (22 de Outubro de 1983).

[4] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, par. 2272 (26 de Maio de 1999).

[5] PAPA PAULO VI, Carta encíclica Humanae vitae sobre a regulação da natalidade (25 de Julho de 1968).

[6] CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instr. Donum vitae, sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação (22 de Fevereiro de 1987).

[7] PAPA JOÃO PAULO II, Carta encíclica Evangelium vitae sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana (25 de Março de 1995).

[8] CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução Dignitas Personae sobre algumas questões de Bioética (8 de Setembro de 2008).

[9] REDONDO-CALDERÓN, J.L. Vacunas, biotecnología y su relación con el aborto provocado. Cuadernos de Bioética, v.29, n.2, p. 321–353, 2008.

[10] BOUSADA, G. M.; PEREIRA, E.L. Produção de vacinas virais parte II: aspectos bioéticos. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três corações, v. 15, n.1, p. 333–
354, 2017.

[11] WADMAN, M. Abortion opponents protest COVID-19 vaccines use of fetal cells. Science, 2020. Disponível em: https://www.sciencemag.org/news/2020/06/abortionopponents-protest-covid-19-vaccines-use-fetal-cells. Acesso em: 18 de agosto de 2020.

[12] MCKENNA, K.C. Use of aborted fetal tissue in vaccines and medical research obscures the value of all human life. Catholic medical association, v. 85, n. 1, p.13–17,
2018.

[13] PONTIFICAL ACADEMY FOR LIFE. Moral Reflections on Vaccines Prepared from Cells Derived from Aborted Human Foetuses. National Catholic Bioethics, 2005. Disponível em: https://www.immunize.org/talking-about-vaccines/vaticandocument.htm. Acesso em 18 de agosto de 2020.

[14] LÓPEZ, R. G. Bioética y racionalidad. El personalismo al servicio de la ampliación del horizonte de la razón em la fundamente ación bioética. Cuadernos de Bioética, v.24, n.1, p. 39–48, 2013.